Elio Migliorança é cursilhista, empresário rural, professor aposentado, ex prefeito de Nova Santa Rosa/PR, ele gosta de viajar e tem muita história pra contar!

Categoria: Artigos Publicados

Artigos escritos pelo Élio Migliorança e publicados no Jornal O Presente de Marechal Candido Rondo/PR

Passado Incerto

**Artigo para o jornal ‘O Presente’ do dia 10 de maio de 2024.**

É comum as pessoas usarem a imaginação para adivinhar o futuro, e via de regra nós erramos os prognósticos, prova de que o futuro é incerto. Mas no Brasil somos muito mais criativos do que qualquer outro país neste planeta. Nós conseguimos fazer o passado também ser incerto. Na verdade não exatamente nós, mas o sistema judiciário do Brasil conseguiu criar uma insegurança tal que nem o passado escapou. Refiro-me mais especificamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) que assumiu um protagonismo nunca antes visto na história deste país. Tudo agora é decisão do STF, e até ali o problema não seria tão grave se não houvessem constantes mudanças de decisões. Vamos aos fatos.

Até o ano passado o que valia para todos os brasileiros, segundo decisão tomada pelo STF era que qualquer aposentado tinha o direito de solicitar ao INSS a revisão de sua aposentadoria, tornando possível assim corrigir muitas injustiças que foram sendo cometidas pelo governo na concessão das aposentadorias pelo INSS. Foi a tão comentada “revisão da vida toda/” festejada por muitos brasileiros já que muitos recolheram o devido para conseguir uma aposentadoria decente e no final não foram beneficiados com o que lhe era de direito.

Recentemente, o próprio STF voltou atrás e revogou sua própria decisão, não mais permitindo essa revisão na aposentadoria.

Outra decisão que é extremamente relevante para todos os brasileiros que possuem uma propriedade rural diz respeito à demarcação das terras indígenas. Quando aprovado, o marco temporal tinha estabelecido os critérios para a demarcação das terras indígenas, corrigindo um absurdo que era a cassação de títulos de propriedade que muitas famílias já possuíam há mais de 40 anos e de repente simplesmente perdia a propriedade porque ela fora requerida por indígenas alegando que a área lhe pertencera no passado. Nem bem havia se estabelecido a paz no campo, e nesta região sabemos o quanto isso tumultuou a vida dos agricultores especialmente em Terra Roxa e Guaíra, o próprio STF voltou atrás e disse que aquilo que havia dito sobre as terras indígenas não vale mais e os conflitos envolvendo a terra começam a se espalhar pelo Brasil novamente.

A decisão anterior estabelecia que os indígenas só podiam reivindicar terras nas quais estivessem vivendo quando da promulgação da constituição em 1988. Porém agora a votação em andamento propõe que o direito reivindicatório independe da data da promulgação da constituição, ou seja ano de 1988. É por essas e muitas outras razões que ao contrário de outros povos que vivem em países onde o futuro é incerto, nós vivemos num país que infelizmente o futuro é incerto e por aqui estamos conseguindo fazer com que o passado seja incerto, porque o que se pensava estar decidido e consumado, está sendo desenterrado e criando o maior clima de insegurança jurídica da história.

Bons tempos aqueles da década de 1980 em que a maioria da população nem sabia que o STF existia.

Eu e os Haitianos

**Artigo para o jornal ‘O Presente’ do dia 11 de agosto de 2023.**

Não tenho nada e ao mesmo tempo tudo a ver com os haitianos. O que sabemos do Haiti é quase nada e o que ouço na rua é a opinião de gente que mesmo não sabendo quase nada, sabe criticar e abominar a presença dos Haitianos no Brasil.

E tudo isso assumiu uma proporção além da imaginação depois que um infausto acontecimento provocou uma explosão de dimensões absurdas, na vizinha e progressista cidade de Palotina, explosão similar a uma bomba Russa lançada em território Ucraniano.

Positivos foram a pronta atuação do Corpo de Bombeiros e o empenho dos
responsáveis pela Cooperativa em atender prontamente os feridos e dar todo o apoio às famílias que perderam seus entes queridos naquele trágico e imprevisível
acontecimento.

Inusitado é que nem um de nós mortais comuns sabia que pó de milho serve pra fazer bombas explosivas. A explosão, segundo dizem, foi provocada por uma
fagulha em contato com o pó oriundo da limpeza do inocente milho que colhemos nas lavouras, e que nós acreditávamos servia apenas para encher o papo dos franguinhos.

Quem em sã consciência imaginou um dia ver uma cena dessas, uma explosão com tais dimensões destrutivas?

A conclusão é que em cada cooperativa e cerealista da região, existe uma bomba engatilhada no subsolo. Certo é que este povo sofrido, deixou seu país depois de um terremoto que ceifou milhares de vida e destruiu para muitos a perspectiva de futuro em seu país. Tiveram que migrar para outras terras para buscar
uma oportunidade de construir o futuro de suas famílias. Em terra estrangeira e sem conhecer a língua, aceitaram qualquer oportunidade de trabalho para sobreviver e retomar a vida perdida em seu país de origem.

Temos milhões de brasileiros também em situação de pobreza estrema, mas isso não justifica tratarmos com discriminação aqueles que chegaram em busca da sobrevivência. Um detalhe que para muitos passou despercebido, mas que foi notado pelas pessoas com maior sensibilidade e consideração foi a forma como alguns meios de comunicação noticiaram o fato ao longo dos dois dias em que o assunto virou manchete nacional. Ao noticiarem o número de mortos. Falavam de fulano de tal e mais oito haitianos parecendo que estes não tinham nome nem sobrenome.

Agora com mais informações sobre a tragédia e suas vítimas, sabemos que vários estavam aqui sozinhos, pois sua família está no Haiti e eles enviavam a maior parte do salário para a família. Algumas são famílias numerosas e agora fica um enorme ponto de interrogação sobre o futuro delas. Em casos assim é muito sensato fazermos o exercício da empatia, ou seja, colocar-se no lugar deles, imaginando que nós fôssemos os imigrantes, tendo ido trabalhar em outro país e fôssemos as vítimas de uma tragédia semelhante. É no mínimo uma questão de humanidade que todos tenham nome, sobrenome e a solidariedade dos demais quando
uma tragédia se abate sobre sua cabeça.

E como os mortos não podem ressuscitar, é preciso que haja pessoas de bom coração para amparar, consolar e colaborar para que estas famílias encontrem um novo caminho para continuar a viver. E que todos tratem
os estrangeiros com dignidade e respeito, afinal assim gostaríamos de ser tratados se em outro país estivéssemos para ganhar o sustento da família.

Honra ao Mérito Patrimonial

**Artigo para o jornal ‘O Presente’ do dia 07 de julho de 2023.**

Esta medalha ainda não existe, mas ela precisa ser criada, como reconhecimento pelo notável serviço prestado em defesa do patrimônio histórico e cultural de Nova Santa Rosa / PR.

Durante muitos anos a população de Nova Santa Rosa acompanhou angustiada a depredação nas instalações do antigo Seminário Santo Américo. Para entender a importância daquelas das instalações, é preciso mergulhar no túnel do tempo e recordar os anos de 1970 e seguintes quando foi criado o Seminário pelos Padres Beneditinos que possuíam um dos melhores colégios na capital do Estado de São Paulo.

Sendo uma congregação religiosa é natural que estivessem preocupados com novas vocações sacerdotais para fortalecer a Congregação e com este objetivo percorreram o sul do Brasil visitando muitas Dioceses para escolher um lugar onde implantar um Seminário. A escolhida foi a então vila de Nova Santa Rosa que era distrito de Toledo. E assim aconteceu.

Aqui foi criado o Seminário Santo Américo que acolheu seminaristas de toda a região, tendo em média 60 seminaristas residindo neste local. Estes alunos enriqueceram nossa escola que na época era o Ginásio Nova Santa Rosa, mas a vinda dos Padres para administrar o Seminário enriqueceram mais ainda pois eram professores com especialização e isso tornava nossa escola uma referência, sendo que na época éramos a única escola de ensino fundamental e médio do Brasil que possuía um Doutor dando aulas, já que o Dom Severino era doutor em História pela Sorbonne de Paris.

Entre outros, este foi um fator que contribuiu muito para a emancipação política do distrito à categoria de município. Depois que o Seminário foi fechado, as instalações foram doadas para a Diocese de Toledo, que posteriormente vendeu a área e assim a construção passou para a iniciativa privada.

No passado havia um projeto para aquisição das instalações para uso do poder público municipal, contudo tal projeto foi abandonado pela administração municipal, período em que a construção sofreu um processo de deterioração, abandono e depredação, causando a sua quase destruição total.

Semana que passou o Prefeito Norberto Pinz comunicou o sucesso nas negociações para aquisição do terreno e da construção , e agora colocou em execução um projeto de recuperação das instalações para uso do poder público municipal na área da educação, cultura e outros projetos sociais.

Isso significa que esta importante e histórica construção, um verdadeiro monumento patrimonial histórico e cultural será preservado e colocado a serviço da comunidade.

Se ainda não existe, que se crie a medalha de honra ao mérito cultural e patrimonial e seja entregue ao Prefeito Norberto Pinz pelo resgate desta importante página da história e da cultura de Nova Santa Rosa, bem como a preservação da memória da Congregação dos Beneditinos que fizeram a diferença na história e na cultura da nossa região, já que os Seminaristas que tiveram a oportunidade de ali estudar, hoje são profissionais a serviço da cultura espalhados nas mais diferentes regiões deste País.

A Cada 10 Segundos

**Artigo para o jornal ‘O Presente’ do dia 07 de julho de 2023.**

O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, uma Organização Não Governamental, em parceria com a Associação Comercial de São Paulo(ACSP) criaram e instalaram em 2005 na sede da ACSP o chamado “impostômetro”, um painel eletrônico que registra o total de impostos arrecadados no Brasil, somados aí os impostos municipais, estaduais e federais.

No ultimo dia 3 de junho, acompanhei o painel e constatei que a cada 10 segundos o Brasil arrecada R$1.000.000,00 em impostos. Isso significa que a cada minuto são seis milhões de reais. É um número impressionante que ajuda a explicar muitas coisas.

Com esta arrecadação e um país bem administrado, poderíamos ter um país de primeiro mundo e proporcionar condição de vida digna para todos os brasileiros. Mas infelizmente não é o que temos. E a maior parte da nossa desgraça fica por conta dos políticos que temos. E aqui não cabe achar que só ao Presidente da República cabe esta responsabilidade. Não, ela é de todos os políticos, começando pelas câmaras de vereadores e Prefeitos, funcionários públicos em todas as esferas do poder, e depois subindo para Governadores, Deputados estaduais e federais, Senadores, Ministros e por fim o Presidente da República.

Recente reportagem sobre a câmara de vereadores da cidade do Rio de Janeiro revelou os criminosos esquemas de funcionários fantasmas que recebem sem trabalhar, sepultando milhões de reais no ralo da corrupção. Algo semelhante deve estar acontecendo em milhares de outras câmaras de vereadores. E na semana que passou foi revelado um dos milhares de esquemas de desvio de recursos através do não menos imoral “Orçamento Secreto” artificio usado para desviar bilhões de reais.

Uma das revelações apontou uma empresa de Alagoas que comprava “kits de robótica” por R$2.700,00 em São Paulo e os revendia ao Governo do Estado de Alagoas por R$14.000,00 cada. Infelizmente é apenas mais um caso somado a milhares de outros denunciados nos últimos anos, envolvendo todo o tipo de malabarismo para beneficiar interesses pessoais em detrimento do bem estar de todos.

Embora muitos torçam o nariz para a operação Lava Jato, ela revelou ao Brasil como funcionam as engrenagens da criminalidade, e pasmem, ao invés de perseguirem os corruptos, a ira se voltou contra os que denunciaram os esquemas de corrupção.

As recentes quedas de braço entre o Congresso Nacional e o Governo Federal são o sinal visível da luta pelo poder que visa o enriquecimento pessoal e o fortalecimento de grupos políticos que lutam para perpetuar-se no poder. Há uma frase de autoria do empresário e político paranaense, Afonso Alves de Camargo Neto falecido em março de 2011 aos 81 anos, dita quando ocupava o Ministério dos Transportes na década de 1990 que dizia: “ muitas obras no Brasil são feitas, não pela necessidade da obra mas pela comissão que recebe aquele que a executa”.

A espantosa arrecadação de R$1.000.000,00 a cada 10 segundos faz a arrecadação dos governos ser tão gigantesca que os corruptos buscam a qualquer preço um cargo para se beneficiar e beneficiar os apadrinhados, e com isso os brasileiros recebem cada vez menos em obras e serviços como contrapartida por aquilo que se paga de imposto.

Artigos como este e tantos outros não resolvem o problema, mas nos ajudam a refletir e a tomar consciência sobre os governantes que temos e nos alertam sobre a necessidade de acompanhar de perto as administrações públicas, cobrando dos candidatos que elegemos para que tenham uma conduta ética quando se trata do dinheiro público.

Nosso voto não pode valer um milhão, tem que valer um compromisso com a ética e a seriedade na vida pública.

Onde Andarão Eles?

**Artigo para o jornal ‘O Presente’ do dia 28 de julho de 2023.**

Há 20 anos, um grupo de alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Mal. Gaspar Dutra de Nova Santa Rosa, respondia uma questão da disciplina de Sociologia/Educação Empreendedora que dizia; “Se você pudesse ser Presidente da República por uma hora e tivesse a oportunidade de fazer uma lei que todos deviam cumprir, que lei você faria?”.

É interessante rever isso 20 anos depois, afinal eram jovens, na faixa dos 17 anos e que hoje estão chegando aos 40 anos. Este é o chamado feito no titulo deste artigo, perguntando onde andarão estes jovens que sonhavam com o futuro?

Na sequência estão listadas as respostas que refletem a visão daqueles jovens bem como o seu caráter, os valores de cada família e o conhecimento que tinham da realidade em que viviam. Algumas respostas foram citadas várias vezes, enquanto outras tiveram apenas um autor.

“1) A maioridade passa a ser a partir de 16 anos.

2) Pena de morte para crimes como assalto e roubo, sequestro, assassinato e torturas.

3) Obrigatório para todos ensino fundamental, médio e superior.

4) Todos terão acesso à faculdade e terão emprego.

5) Todos são obrigados a respeitar, ser gentis, agradecer, e cada um deve ter consciência de seu dever, e quem não cumprir será multado.

6) Todos devem ser pontuais, tudo começará no horário marcado.

7) Todo professor ganhará salário de um deputado.

8) Os menores aprenderão a fazer coisas novas via projetos, e a partir daí entrarão no mercado de trabalho.

9) A segunda feira passará a fazer parte do “fim de semana” e cada um pode curti-la como bem entender.

10) Todos terão liberdade de expressão.

11) O maior salário pago neste país não poderá ser mais do que 20 vezes o menor salário.

12) Ficam delimitados os orçamentos públicos para reduzir gastos, e isso será investido na previdência social, para aposentar todo cidadão acima de 48 anos.

13) Cada um é obrigado a respeitar o seu próximo.

14) Será proibida a reeleição para todos os cargos eletivos neste país, assim haverá renovação na política.

15) Será permitido bebidas para menores de 18 anos porque quanto mais se proíbe, mais se bebe.

16) Será proibido vender bebidas alcoólicas em lugares públicos.

17) Os religiosos devem ser respeitados em seus cultos, e ninguém pode fazer nada contra as religiões.

18) Um ministro do Supremo Tribunal Federal deve ser escolhido por concurso público e nunca escolhido pelos políticos.

19) Os agricultores devem ser devidamente respeitados e receber um valor lucrativo pelo seu serviço.

20) Ao sair do Ensino Médio todos irão para a faculdade sem custo algum.

21) É proibido julgar sem conhecer a pessoa antes.

22) A maioridade será a partir dos 15 anos, respondendo cada um pelos seus atos.

23) Prisão para todos os crimes, independente da idade.

24) Quem cometer adultério será penalizado rigorosamente.

25) Quem roubar dinheiro público que é de todos devem ter prisão perpétua.

26) Quem discriminar os outros por causa de sua raça, cor ou religião deverá ser preso.

27) É obrigatória a separação do lixo orgânico e reciclável e a Prefeitura deverá recolhê-lo. Quem não o fizer, punição nele.

28) Quem tem 16 anos pode dirigir, quando autorizado pelos pais.”

Eis a cara da legislação brasileira na visão de alguns jovens do ano de 2003. Hoje, próximos dos 40 anos, será que a visão de mundo ainda é a mesma, e qual seria a resposta deles a esta mesma pergunta?

Jamais saberemos, contudo você caro leitor pode fazer um exercício mental e responder a si mesmo: o que mudou na sua vida e na sua visão de mundo, durante os últimos 20 anos?

Se você mudou de ideia, parabéns, pior do que mudar de ideia, é não ter ideias para mudar.